Artigo escrito por Carlos Alberto Figueiredo, maestro, pesquisador e professor de Regência Coral da ACC

Resumo: Este texto apesenta a trajetória de Cleofe Person de Mattos (1915-2002), professora, musicista e pesquisadora carioca. Além de sua carreira como professora da Escola de Música da UFRJ, foi uma das principais pesquisadoras da música brasileira de vários períodos, com destaque para seus trabalhos em torno da vida e da obra de José Maurício Nunes Garcia. Sua carreira como musicista se inicia com a criação da Associação de Canto Coral em 1941, conjunto com o qual dirigiu e preparou algumas centenas de concertos, além das primeiras gravações de obras de compositores brasileiros dos séculos XVIII, XIX e XX. Destaca-se em sua produção a edição de inúmeras de José Maurício Nunes Garcia, desde obras curtas a cappella até obras monumentais, como a Missa de Santa Cecília.


Cleofe Person de Mattos nasceu em 17 de dezembro de 1913, no Rio de Janeiro, e faleceu em 2 de maio de 2002, com a idade de 88 anos, na mesma cidade. Sua vida foi intensa e polivalente, atuando como professora, musicista e pesquisadora. Cleofe, como era chamada pelas pessoas com quem se relacionava, estudou inicialmente com Oscar Guanabarino (1851-1937), graduando-se em Composição e Regência na atual Escola de Música da UFRJ (1941), tendo, no ano anterior, concluído o curso de formação para professor secundário especializado em música e canto orfeônico, pela extinta Universidade do Distrito Federal.

Ingressou na carreira de ensino superior em 1947, passando a lecionar Teoria Musical na atual Escola de Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), e, mais tarde, em 1973, Fuga I e II. Em 1984, foi agraciada com o título de Professora Emérita da instituição.

Teve intensa atividade internacional como representante do Brasil em eventos culturais de vários tipos em cidades europeias. Recebeu inúmeras honrarias por suas atividades, tais como as medalhas Jornal do Commercio (1958) e Carlos Gomes (1960), além do troféu Estácio de Sá (1972). Em 1964, foi eleita para a cadeira cinco da Academia Brasileira de Música, cujo patrono é José Maurício. Chegou a ser eleita presidente do Instituto Interamericano de Diretores de Coros, em 1979, mas ocupou o cargo por pouco tempo. Em 1981, recebeu o Kenneth David Kaunda Award for Humanism, da Associação Pan-Africana.

Já em 1961, proferia a pesquisadora a primeira de suas conferências sobre José Maurício, no Centro de Estudo de Música Brasileira do Diretório Acadêmico da Escola de Música da UFRJ. Essa conferência teve como título “José Maurício, um Mestre”, e foi ilustrada com a primeira audição moderna de três Graduais do compositor carioca, sob a direção de Othonio Benvenuto (1925). Era o início simbólico de uma longa carreira dedicada à pesquisa sobre a vida e a obra de José Maurício e a música brasileira em geral.

Nesse longo percurso musicológico, realizou seus dois estudos mais importantes sobre José Maurício. O primeiro deles, o “Catálogo Temático das Obras do Padre José Maurício Nunes Garcia”[1], publicado em 1970. Além do mérito de ter sido o primeiro catálogo temático brasileiro, tendo servido de modelo para tantos outros do mesmo tipo, sistematizou com profundidade o conhecimento da produção do compositor carioca, elencando obras, fontes e arquivos minuciosamente, em verbetes plenos de comentários de interesse, além dos incipits temáticos, essenciais para esse tipo de catálogo. As obras desaparecidas de José Maurício estão listadas em apêndice. Os textos introdutórios são de grande riqueza, abordando dados biográficos, e estabelecendo as bases do catálogo. Apesar de necessitar de revisão, em função de tantas novas descobertas, nesses mais de 50 anos, continua sendo a grande referência para o estudo da obra mauriciana. As ricas introduções às suas edições de obras do compositor carioca suprem, parcialmente, os itens desatualizados do Catálogo.